quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Bachelet tem muito o que ensinar à direita


As eleições do Chile com a subsequente vitória do candidato da direita, o bilionário Sebastián Piñera, causou verdadeira comoção entre os meios de comunicação do Brasil, consigo ver as lágrimas de felicidade do Estadão quando diz que o resultado "enterra 20 anos de domínio da esquerda", ou ainda da Miriam Leitão: "Existe o caminho do futuro, e o retrocesso. (...) O Chile já sabe seu caminho" (agora imagina o que acha que seja retrocesso, não é difícil acertar). O que o babaca do Reinaldo Azevedo, da Veja, diz, não mereceria crédito algum, mas cito a título de humor:

"No mundo inteiro, mas muito especialmente na América Latina, as esquerdas tentam manter a população na jaula do Dia da Marmota. Trata-se de uma espécie de seqüestro moral. (...) os 'chilenos disseram “não' ao maniqueísmo tentado pela máquina oficial. (...) Assim é nas democracias. O resto é seqüestro da inteligência."

A torcida se resume no artigo de Merval Pereira, O Globo ( segunda, 18), que ressalta a importância do resultado porque, se Bachelet tinha 80% de aprovação, Lula, aqui, poderia não transferir a sua popularidade a Dilma.

Pois bem, a Concertación da senhora Bachelet, que desde de 1990 está no poder, tem sofrido verdadeira crise interna, e isso longe de ser desgaste "natural" de duas décadas, mas porque a política que se diz de esquerda não conseguiu resolver problemas básicos da população, que piora a cada desilução política. Ao invés dessa preocupação, Bachelet dedicou-se sobretudo ao livre-comércio com os EUA. Tem muito o que ensinar à direita, e já se analisa as pouquíssimas mudanças na área econômica que fará o novo governo neopinochetista de Piñera (não é exagero.. inclusive porque dois ministros dos anos do velho ditador sanguinário estarão com Piñera), com exceção, claro, da maneira neoliberal (e nós conhecemos muito bem isso) de governar: ele já disse, quando ainda candidato, que privatizaria 20% da Codelco, companhia de Cobre (ainda principal produto de exportação chileno), por considerá-la pouco concorrencial no mercado...

A análise de outros atribui a derrota de Frei (candidato governista) à divisão da esquerda. Realmente é um problema, mas as principais questões estão nas ações ineficazes da Concertación para com a maioria do povo.

Agora só resta à pobre população chilena suportas mais quatro anos de penúria e esquecimento com o governo elitista do já apelidado "Berlusconi Chileno".

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